NOTÍCIA

Ensino Fundamental

Espaço ampliado

Sorocaba (SP) e Dourados (MS) mostram caminhos para a ação comunitária

Publicado em 10/09/2011

por Gabriel Jareta



Escola integral em Sorocaba:10% dos estudantes da rede municipal têm aulas no contraturno

Em Sorocaba, cidade com cerca de 600 mil habitantes a 90 km de São Paulo, a aplicação da educação integral na rede municipal obedece a uma regra muito clara: as atividades em horário ampliado devem ser tratadas com o mesmo cuidado destinado ao currículo regular. Nas palavras da secretária de Educação do município, Maria Teresinha Del Cístia, a preocupação é fazer com que a escola não seja “chata pela manhã e agradável à tarde”. Por isso, o programa pedagógico deve ser pensado levando em conta esses dois momentos escolares. “A educação integral deve refletir na melhora da aprendizagem, não somente ser uma escola em tempo integral. No nosso caso, as crianças realmente conseguiram melhorar por participar da educação integral”, afirma.


Durante este ano, o programa de educação integral em Sorocaba deve atingir cerca de 4,6 mil alunos de 7 a 10 anos – ou 10% de toda a rede municipal -, com a expectativa de chegar a dez mil crianças dentro dos próximos dois anos. O projeto, denominado Oficina do Saber, começou em 2007 atendendo escolas localizadas em regiões mais pobres da cidade, onde as crianças estavam expostas a maiores riscos. O projeto foi crescendo gradativamente e hoje abrange 22 escolas em quatro bairros. No ano passado, recebeu menção honrosa na entrega do prêmio Itaú-Unicef.


A ideia de fazer com que o projeto funcione dentro dos chamados Bairros-Escola é bastante significativa, já que a intenção da secretaria de educação era fazer com que a comunidade fosse parte envolvida na concepção de educação integral – do mesmo modo, a utilização de espaços urbanos como locais de aprendizagem é uma das prerrogativas das chamadas “cidades educadoras”. “Queríamos chegar aos bairros com maior necessidade, onde não havia outros instrumentos públicos”, diz Maria Teresinha. Segundo ela, um dos principais trunfos do projeto é utilizar os espaços da comunidade, como igrejas e clubes, além de parceria com entidades civis organizadas. Além disso, pequenos detalhes mostram a importância dessa integração: a secretária lembra que, em um bairro, o trajeto que as crianças percorrem ao sair da escola para atividades externas foi pintado com cores diferentes apenas para deixar claro à comunidade que aquele é também um espaço escolar.


A educação integral na cidade funciona em contraturno. Os alunos almoçam na escola e participam de oficinas de atividades esportivas e culturais, como dança, judô e capoeira, além de terem aulas de língua estrangeira, informática e programas de reforço de leitura e raciocínio matemático. Parte dos educadores parceiros são contratados, como os responsáveis pelo balé, clube de xadrez e aulas de música. “Procuramos trabalhar também com a autoestima das crianças, com teatro, coral e instrumentos musicais. Temos crianças que formaram um conjunto de cordas, com violino, violoncelo. Quando essas crianças poderiam ter essa oportunidade?”, reflete a secretária.


Outra preocupação, diz Maria Teresinha, é fazer com que os pais compreendam a modalidade de educação que está sendo realizada com seus filhos – para que a família esteja também integrada às propostas de aprendizagem. Por isso, antes de as salas serem montadas, os professores conversam com os pais individualmente e explicam como funciona o projeto. “A participação da família é fundamental”, reitera a secretária.


Assuntos da comunidade
A integração com a comunidade também é a tônica das práticas de educação integral no município de Dourados (MS). Assim como em Sorocaba, o projeto Educa Mais chegou primeiro às regiões mais carentes da cidade e atualmente faz parte do cotidiano de mais de 4 mil alunos de 17 escolas do 1º ao 9º ano. Além das atividades culturais, como dança e música, e reforço em língua portuguesa e matemática, os alunos se envolvem em assuntos da comunidade, como educação para o trânsito, em parceria com a Guarda Municipal, e projetos de saúde. “Hoje, por exemplo, os alunos estão auxiliando os agentes de saúde na questão da dengue, com limpeza dos bairros e campanha de prevenção”, conta a secretária municipal de Educação, Marlene Florêncio de Miranda Vasconcelos.


Por enquanto, a adesão à jornada ampliada é opcional – mesmo assim, o índice de alunos participantes ultrapassa 80%, que permanecem na escola das 7h às 16h30. “A maioria das crianças não tinha para onde ir (no contraturno). Os pais trabalham e elas ficam sozinhas em casa ou nas ruas e nos campinhos. Hoje elas podem ficar na escola, ter auxílio na tarefa, tirar dúvidas com monitores. As condições de estudo melhoram”, afirma a secretária. Segundo ela, um projeto-piloto de educação integral está agora sendo implantado em uma escola da zona rural, com direcionamento diferente. Na área urbana, a preocupação continua voltada para as áreas mais vulneráveis. “Neste primeiro momento, estamos selecionando aquelas escolas em que os alunos mais precisam (de atenções). Em muitos casos, não têm nem a alimentação adequada”, observa.








Ideia transnacional


Tanto Sorocaba (SP) quanto Dourados (MS) são membros da Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE), uma rede de cidades que promovem a educação tomando por base todas as possibilidades do território urbano. Organizadas a partir do 1º Congresso Internacional das Cidades Educadoras, sediado em Barcelona (Espanha), em novembro de 1990, essas cidades observam os princípios da Carta das Cidades Educadoras, um documento que apresenta as bases de como as cidades devem se organizar para proporcionar o “impulso educador” a seus habitantes. O primeiro princípio da carta já aponta para isso: “Todos os habitantes de uma cidade terão o direito de desfrutar, em condições de liberdade e igualdade, os meios e oportunidades de formação, entretenimento e desenvolvimento pessoal que ela lhes oferece. O direito a uma cidade educadora é proposto como uma extensão do direito fundamental de todos os indivíduos à educação”. A Carta está disponível na internet. Para outras informações e lista completa das cidades associadas, o site da AICE é www.edcities.org (em espanhol, inglês, francês e catalão).

Autor

Gabriel Jareta


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