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Basta se divertir

Em sessões gratuitas, Clube do Professor oferece programação de filmes sem apelo pedagógico e enriquece o repertório cinematográfico do educador.

Publicado em 10/09/2011

por Sérgio Rizzo


No Festival Escola no Cinema, mais de 22 mil espectadores assistiram, entre outros, à retrospectiva de títulos como o chileno Machuca ( foto)

Entre quarta e quinta-feira, cerca de 20 mil professores de cinco cidades recebem por e-mail um boletim informativo com uma programação de cinema especial, gratuita e dirigida exclusivamente a educadores. No sábado pela manhã, 52 semanas por ano, aproximadamente 1,6 mil deles atendem ao convite e comparecem às sessões, realizadas em salas dos circuitos Unibanco Arteplex e Espaço Unibanco.


Em São Paulo (SP), onde o Clube do Professor foi criado, essa rotina completou cinco anos em novembro. Em Curitiba (PR), a cidade mais recente a entrar para a rede, o primeiro aniversário será comemorado em janeiro. As sessões semanais são realizadas também no Rio de Janeiro (RJ) – em dois locais distintos, na Barra da Tijuca e em Botafogo -, em Porto Alegre (RS) e Juiz de Fora (MG). Santos (SP) e Tubarão (SC) devem se integrar às atividades no início de 2007.


"Nosso principal objetivo é tornar a ida ao cinema uma ação cotidiana para o educador", explica Patrícia Durães, coordenadora do Clube do Professor e sócia dos circuitos Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex. "Alguns educadores pensam que deveríamos exibir apenas filmes relacionados à escola, com apelo pedagógico, mas queremos trabalhar a formação de repertório, de maneira permanente, e não esporádica."


Recentemente, essa política gerou polêmica entre os sócios de Porto Alegre. Alguns se manifestaram contra a seleção dos longas-metragens A Concepção, Pergunte ao Pó e Garfield 2. "Queremos quebrar esse conceito, tanto que não trabalhamos com material pedagógico", diz Patrícia. "Escolher o que pode usar na sala de aula e como fazer isso é o trabalho do professor. A nossa parte é oferecer conteúdo cinematográfico."


Em outubro, o Clube realizou a primeira edição do Festival Escola no Cinema, nas cinco cidades onde funciona o Clube do Professor. Foram promovidas 70 sessões gratuitas para professores, alunos e demais interessados, com cerca de 22 mil espectadores no total. Na programação, pré-estréias de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, Uma Verdade Inconveniente e Pro Dia Nascer Feliz, além de retrospectiva com 13 títulos, como Edukators, Machuca e Cronicamente Inviável.


"Já estamos planejando mudanças para o festival em 2007, como oferecer sessões para crianças pela manhã, promover oficinas e alterar a data, possivelmente para a primeira quinzena de setembro, o que evitaria a proximidade com o Festival do Rio (na segunda quinzena de setembro) e com a Mostra de São Paulo (na segunda quinzena de outubro)", afirma Patrícia.


Ex-professora de música e coordenadora de período integral em escolas do Rio de Janeiro, ela foi uma das responsáveis pela criação, em 1985, do projeto Escola no Cinema, espécie de antecessor do Clube do Professor. "Sentia dificuldades em trabalhar com a linguagem cinematográfica porque nenhuma sala permitia fazer sessões para crianças pela manhã, quando normalmente as portas estão fechadas para o público", lembra.


"Tínhamos um projetor 16 mm na escola, mas o acervo de filmes disponíveis nesse formato era muito pequeno." Com o projeto, implantado em São Paulo a partir de 1994, escolas podem agendar sessões durante a manhã, a um preço médio por aluno bem inferior ao valor do ingresso. O espaço pode ser usado também para debates com professores e convidados, em seguida às exibições.


Para se tornar sócio do Clube do Professor, basta preencher a ficha cadastral e apresentar comprovante de atuação no ensino formal ou informal. A carteirinha dá direito a ingresso gratuito nas sessões semanais de sábado, a descontos de 50% nas sessões normais de segunda a sexta-feira nas salas do Unibanco Arteplex e do Espaço Unibanco, e também a descontos nos cursos (de direção, roteiro, produção executiva) oferecidos pelo circuito em São Paulo e, em breve, nas demais cidades.


"Essa possibilidade de aprimorar a visão cinematográfica é, para nós, mais importante do que oferecer uma apostila com os aspectos pedagógicos de um filme", observa Patrícia. Um dos eventos mais populares do Clube, em 2005, promoveu debates entre professores e cineastas brasileiros em seguida à exibição de seus filmes. Eventualmente, esses encontros ocorrem também nas sessões semanais de sábado.


"O cinema é um excelente instrumento de formação das pessoas", afirma Rui Alves Grilo, professor de português no ensino médio da rede estadual em Ubatuba (SP) e um dos mais antigos freqüentadores do Clube do Professor em São Paulo. "Quando trabalhamos na secretaria municipal de Educação da capital, na gestão de Luiza Erundina (1989-1993), fizemos vários ciclos de cinema para formação de professores, organizando os filmes por temas. Ele é interdisciplinar e pode, se bem trabalhado, ampliar o nosso olhar sobre a realidade e sobre nós mesmos."


A professora aposentada Suzana Beatriz Katzenstein, que era orientadora de sala de leitura na rede municipal de São Paulo, costumava levar seus alunos ao projeto Escola no Cinema e, hoje, continua a acompanhar as sessões do Clube. "Eu o considero muito peculiar, tanto pela forma quanto pelo conteúdo, e nos dá a oportunidade de ver filmes de primeira qualidade. Podemos trocar opiniões. Fora isso, reencontrei colegas de trabalho com quem não tinha contato há cerca de 20 anos."




Para a professora aposentada Suzana Beatriz Katzenstein, o Clube do Professor traz "filmes de primeira qualidade" e a oportunidade de trocar opiniões com os colegas

Outra que fez caminho semelhante foi Salvia Correia, professora de biologia no ensino médio da rede estadual em São Paulo. "Numa freqüência bimestral, escolhendo de acordo com a programação do Escola no Cinema e consulta aos alunos, nos mantínhamos atualizados principalmente em relação à cinematografia nacional", recorda. "Minha avaliação do Clube é tão boa que estou sempre incentivando colegas e alunos a participar."


O escritor e roteirista Almir Correia, professor de linguagem audiovisual nos ensinos médio e superior em Curitiba, diz que o Clube "tem algo especial, coisa que falta às outras salas". Para ele, todos os professores deveriam ter direito a pagar meia-entrada. "Assim, eles poderiam fazer propaganda para seus alunos. Eu sempre fiz. Será que ninguém mais pensa assim?"


 



Clube do Professor – Tel.: (11) 3266-5115 –



escolanocinema@uol.com.br


Autor

Sérgio Rizzo


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